Gosto da tua frívola[1] cantiga,
Mas vou dar-te um conselho, rapariga:
Trata de abastecer o teu celeiro.
Trabalha, segue o exemplo da formiga,
Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro,
E tu, não tendo um pouso hospitaleiro,
Pedirás... e é bem triste ser mendiga!
E ela, ouvindo os conselhos que eu lhe dava
(Quem dá conselhos sempre se consome...)
continuava cantando... continuava...
parece que no canto ela dizia:
— Se eu deixar de cantar morro de fome...
que a cantiga é o meu pão de cada dia.
(de Últimas Cigarras, 1920)
[1] FRÍVOLO: sem importância.