Que o vento imprime às palmas das palmeiras,
Do bramido[2] do mar e das cachoeiras,
Da voz que impreca[3] à voz que balbucia[4];
Do sol que fala quando nasce o dia,
Do luar que enche de unção[5] as cordilheiras[6],
Vem este claro idioma, que é poesia
E alma das gentes luso-brasileiras.
Rumor de asas de abelha, um ruído apenas...
Doce afago de arminhos[7] e de penas,
Perdão, queixume, lágrima, reclamo,
Ou grito estuante[8] de alma incompreendida,
Do desgraçado: “Eu te condeno, ó vida!”
Do poeta que sofreu: “Ó vida, eu te amor!”
(de Enamorado da Vida, 1937)
[2] BRAMIDO: grande ruído ou som muito forte.
[3] IMPRECAR: pedir; rogar a Deus.
[4] BALBUCIAR: falar com dificuldade.
[5] UNÇÃO: sagrar; purificar.
[6] CORDILHEIRA: conjunto de altas montanhas.
[7] ARMINHO: mamífero cuja pele é macia e clara no inverno.
[8] ESTUANTE: agitado, vibrante.