ALMAS IRMÃS

Cigarra! Eu sou feliz quando imagino
Sermos os dois irmãos do mesmo fado
[1]:
Canto as minhas canções desde menino...
Quem canta, fica menos desgraçado.

De almas unidas e de braço dado,
Vamos de desatino
[2] em desatino...
Somos pobres os dois, mas o Destino
Deu-nos astros no céu e ouro no prado
[3].

Cantas para dar vida à Natureza.
Eu canto para ver se a alma se esquece
Dessa a quem vive eternamente presa.

Somos iguais no sonho que enobrece:
Nosso único motivo de Beleza
É dar felicidade a quem merece...



(de Últimas Cigarras, 1920)

[1] FADO: destino, sorte.
[2] DESATINO: falta de juízo, loucura.
[3] PRADO: campo cheio de capim.