CAI, CAI, BALÃO

Na noite fria, quieta e estrelada
Que o luar envolve num grande beijo,
Vai subir o balão... A criançada
Acende os olhos, abre os braços em desejo...

Arfa
[1] o bojo[2] amarelo num momento...
Treme. Estala ao clamor
[3] doido que o impele...
Lá vai levado no vaivém do vento...
Os olhos sobem para o céu com ele.

Ilusão de um desejo irrealizado,
Passou... Vem outro... Cai, balão! A noite é fria.
E outro que sobre, e outro que cai do céu doirado
Abre na criançada explosões de alegria...



Ah, vida humana! Em minha ingenuidade
Acho que o destino é triste mas é lindo!
Como um balão aceso, a Felicidade
Foge das nossas mãos e vai indo... vai indo...

Cai, cai, balão!



(de Canto da Minha Terra, 1930)
[1] ARFAR: respirar com dificuldade; ansiar; ofegar.
[2] BOJO: saliência arredondada; barriga.
[3] CLAMOR: grito.