PIROLITO

“Pirolito que bate, bate,
Pirolito que já bateu.
Quem gosta de mim é ela,
Quem gosta dela sou.”

Em meio à praça adormecida,
Ao luar que tece rendas no chão,
Numa grande alegria da vida
As crianças dançam... girando vão...

Fazem roda de braços dados,
Riem num riso que nos faz bem.
Abrem os olhos afortunados...
Que lindos olhos as crianças têm!

Uma magrinha, tatibitate
[1],
Na voz delgada que Deus lhe deu,
Esganiçada
[2] não canta, late:
“Pirolito que bate, bate,
Pirolito que já bateu.”

As notas frescas se emudeceram
De uma tristeza que ninguém quis.
A voz daqueles que não sofreram,
Que não amaram... como é feliz!

Na singeleza, na ingenuidade
Dessa alegria que faz chorar,
A gente sente que anda a saudade
Cantando dentro do nosso olhar.

E recordamos as esperanças
Que o tempo, em sombras, adormeceu...
Nós outros, poetas, somos crianças,
Foi a nossa alma que envelheceu...

“Pirolito que bate, bate,
Pirolito que já bateu.”

(de Canto da Minha Terra, 1930)

[1] TATIBITATE: acanhado, com vergonha.
[2] ESGANIÇAR: cantar com som agudo como o ganir de um cão.